
FILOSOFIA OCULTA

O Conhecimento & a Conversação com o
SAGRADO ANJO GUARDIÃO
Um dos temas mais discutidos no ocultismo moderno é o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Quem popularizou essa terminologia foi Aleister Crowley (1875-1947), considerado por muitos o pai da magia moderna. Ele se inspirou na caracterização medieval e no sistema da magia sagrada atribuída a Abraão, o judeu, completamente demonstrada no Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago. O contato de Aleister Crowley com este livro e o conhecimento de goécia salomônica nele contidos serão explorados neste curso do Site Filosofia Oculta sobre o tema.[1] Este é um curso derivado do Curso de Filosofia Oculta, onde estamos explorando as raízes arcaicas desta experiência espiritual. Muito embora Crowley tenha popularizado este conhecimento na magia moderna, sua interpretação inicial foi bem confusa. Por volta do período entre 1920 a 1930, a partir de seus escritos e diários, encontramos Crowley completamente confuso sobre o que de verdade representa essa experiência, considerada o passo fundamental na jornada de um adepto, pois o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião reanima suas forças e conexões espirituais, alimenta a secura da alma, solapa falsas crenças e demole medos infundados a partir da total ignorância do termo espiritualidade. Um adepto com espiritualidade trata-se de um mago com conexões verdadeiras com espíritos, criaturas do reino da geração. Possuir espiritualidade quer dizer possuir assistência espiritual. Quem tem espiritualidade possui uma assistência espiritual de espíritos que constituem sua egrégora pessoal. Todo mago é acompanhado por espíritos tutelares, familiares, assistentes e servidores. Esse é um conhecimento fundamental para compreensão do que vem a ser o Contato & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião.
Foi somente no fim de sua vida que Crowley veio a ter lampejos reais do que esta experiência e entidade praeter-humana representam. Não estou dizendo com isso que suas experiências não foram reais. Elas foram sim, e genuínas. Thelema, seu sistema pessoal de iniciação, é fruto dessas experiências. Ele só esteve inconsciente da real magnitude delas a maior parte de sua carreira magística. Uma pessoa, qualquer pessoa, pode ter conexões reais com o Sagrado Anjo Guardião sem saber disso. Os magos, no entanto, têm a obrigação de saber disso, pois as forças de sua magia têm sua fonte na sua egrégora pessoal. Um mago não precisa caso não queira de muitos espíritos assistentes para operar magia; depende dele ou do sistema que ele pratica. De fato um mago precisa de apenas um, seu Sagrado Anjo Guardião, a fonte última de seus poderes de magia.
Mesmo inconsciente da real amplitude do Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, Crowley foi um buscador voraz do assunto, passando muito perto diversas vezes. Tanto é assim que o ritual que ele reescreveu ou adaptou para o Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião foi retirado dos Papiros Mágicos Gregos, que contêm um legítimo arcano de feitiçaria sobre essa experiência, não nos termos modernos. Os Papiros Mágicos Gregos apresentam essa ideia do Sagrado Anjo Guardião como o paredros, o espírito assistente e o daimon pessoal, o bom daimon que auxilia as pessoas. De uma das lições deste curso:
Nessa seção nos concentraremos em quatro feitiços dos Papiros Mágicos Gregos: 1. o Suotaoiz idiou daimonoz (VII. 505-528); 2. um feitiço sem nome para revelação onírica (VII. 478-490); 3. um feitiço sem nome concernente a própria sombra (III. 612-631); 4. o Feitiço de União Erótica de Astrapsoukos (VIII. 1-63). Nos papiros, o termo grego suotaoiz é utilizado para designar o ritual ou a prece para estabelecer uma conexão entre o homem e o plano divino através de um aghato-daimon (daimon pessoal) ou através de um espírito assistente (paredros).[2] Suotaoiz pode ser traduzido como encontro e foi um termo amplamente utilizado na teurgia clássica neoplatônica para descrever a conjunção do teurgo com a deidade em um estado de transe mediúnico. O termo grego idiou daimvn nos papiros descreve o daimon com uma estreita e íntima conexão com o mago. Plotino preferiu utilizar o termo oikeioz daimVn. Jâmblico ao tratar do daimon pessoal usa ambos idiou e oikeioz, acrescentando uma terceira designação: o eauton. Ele descreve como o oikeioz, o Mestre da Casa, concede a cada alma um daimon pessoal. Este termo, oikeioz, associado ao daimon pessoal, faz referência a região (casa) do signo zodiacal do mago. Outras designações foram formuladas pelos pré-socráticos, platônicos e estoicos.
Essa experiência espiritual é universal. Diversas culturas apresentam o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião de muitas formas distintas. Magos têm procurado vivencia-la desde os primórdios da tradição oculta da magia, pois o contato com espíritos tutelares assistentes constitui o primeiro passo no exercício de uma espiritualidade pé no chão; por isso grande parte do aprendizado magístico trata-se de aprender a ver, escutar e a lidar corretamente com os espíritos.
Todo sistema magístico genuíno, quer dizer, todo culto ou linguagem mágica afiliada verdadeiramente a tradição oculta da magia apresenta quatro passos fundamentais para coroação da experiência magística, que trata-se i. se preparar através de estudos, aprofundamentos e viagens para a chegada do mestre, que precisa de um aluno que tenha algum conhecimento magístico para poder se aprofundar; ii. evoluir de aspirante/estudante/aprendiz até adepto; seu mestre lhe auxiliando a entrar em contato com seus espíritos tutelares, familiares, assistentes e servidores; este tem sido o Arcano Secreto da magia; iii. de posse do Arcano Secreto da magia, tornar-se um mestre na feitiçaria, conhecimento e conversação com espíritos, fundamentalmente o Sagrado Anjo Guardião ou outra deidade tutelar; iv. auxiliar aprendizes e trabalhar sacerdotalmente e remuneradamente para quem precisar de seus serviços mágicos.
Sistemas místicos que propõem um tipo de magia salubrizada (alta magia ou magia branca) vão por caminhos bem distintos da feitiçaria ou Arte dos Sábios. A interpretação moderna acerca do Sagrado Anjo Guardião é salubrizada como reflexo das ideias renascentistas, iluministas-maçônicas, cristãs-rosacrucianas e cientificistas da magia moderna. Neste curso nós vamos abordar a gênese dessa ideia do Sagrado Anjo Guardião com a intenção única de demonstrar que o Conhecimento & a Conversação não se tratam de experiências distantes em um futuro longínquo na carreira magística. Não precisamos do Sagrado Anjo Guardião quando estivermos em Tiphereth, para falar nos termos modernos. Precisamos dele em Malkuth, aqui e agora. E essa é a goécia desse arcano. O Sagrado Anjo Guardião dota o mago com poderes sobre as criaturas espirituais do reino da geração. Por esse motivo as tradições arcanas de magia propõem o conhecimento e conversação com espíritos assistentes. A magia para ser efetiva precisa deles, os espíritos do reino da geração, para funcionar; não só das capacidades do mago. É o Sagrado Anjo Guardião a autoridade espiritual que o mago tem; essa autoridade não vem do mago, como ensinam magia nos dias de hoje, mas de sua egregora pessoal, que inclui o Sagrado Anjo Guardião.
A espiritualidade ou assistência espiritual do mago inclui o Sagrado Anjo Guardião como deidade tutelar, espíritos ancestrais de mortos, sejam eles mestres espirituais de alguma tradição ou mestres ancestrais pessoais, almas de parentes sanguíneos e espíritos da natureza. Nós iremos explorar esse tema de forma teórica, apresentando a ideia do Sagrado Anjo Guardião nas tradições arcanas do passado, avaliando suas técnicas, restaurando seu exercício e eficiência. Este curso é em videoaulas e material em PDF aqui no Site Filosofia Oculta:
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Aula 1: O Sagrado Anjo Guardião nos Primórdios da Magia. Nesta aula vamos primeiro nos debruçar sobre a ideia central da magia e seu meio de ação. Seguimos para os primeiros passos seguros na prática da magia, analisando na cultura primitiva da magia, o xamanismo paleolítico, a gênese da ideia do Sagrado Anjo Guardião. A feitiçaria primitiva apresenta uma magia rústica de contato e aprisionamento de espíritos diversos tendo o culto aos ancestrais como pivô fundamental.
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Aula 2: O Sagrado Anjo Guardião na Antiguidade. Nesta aula vamos explorar a ideia ou conceito de Sagrado Anjo Guardião na feitiçaria dos papiros gregos e na teurgia neoplatônica. Na feitiçaria dos papiros gregos encontramos a ideia do paredros, o espírito assistente como deidade tutelar, pessoal ou servidora; e a ideia do daimon pessoal como deidade tutelar. Essa ideia foi desenvolvida pelos filósofos pré-socráticos, platônicos e estoicos, mas o conhecimento que temos acerca do Sagrado Anjo Guardião moderno é uma influencia dos neoplatônicos da Antiguidade tardia derivada do daimon pessoal. Os feitiços dos papiros e o ritual de teurgia para o contato com o daimon pessoal lançam muita luz sobre a maneira como os magos da Antiguidade compreendiam e lidavam com estes espíritos tutelares.
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Aula 3: O Sagrado Anjo Guardião de Abramelin. Nessa aula vamos nos debruçar sobre a ideia salomônica-neoplatônica-cristã do contato com o Sagrado Anjo Guardião com a finalidade última de goécia, comandar os espíritos do corpo de Deus. O Sagrado Anjo Guardião de Abramelin une o melhor da feitiçaria da Antiguidade e Idade Média (salomônica), quer dizer, o conhecimento e conversação com o espírito tutelar para comandar espíritos menores; e o melhor do misticismo teúrgico neoplatônico, onde um daimon pessoal ou Sagrado Anjo Guardião é designado por Deus para assistir as almas encarnadas no reino da geração.
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Aula 4: O Sagrado Anjo Guardião na Magia Moderna. A influência da magia Sagrada de Abramelin, seu método simples, abriu um novo leque de interpretações na modernidade sobre os fundamentos reais do Conhecimento & Conversação. Antes uma entidade no reino da geração distinta da consciência humana, agora uma parte superior dela. O Sagrado Anjo Guardião tornou-se o Eu Superior. Os métodos mágicos de Conhecimento & Conversação tornaram-se psiúrgicos em demasia, acabando por afastar os magos de sua espiritualidade, de seus guias espirituais. Essa ideia do Sagrado Anjo Guardião ser o Eu Superior é moderna, mas existem fontes antigas. Filósofos já apresentavam o daimon de Sócrates como um tipo de voz da consciência ou intuição. Seja como for, hoje o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião é apresentado como uma experiência distante, no entanto, ela pode acontecer a qualquer momento quando diligentemente compreendida e exercitada.
Os vídeos no You Tube sobre este tema e os livros Corrente 93 e Daemonium No. 1 constituem uma introdução ao estudo e prática deste curso.
No fim será incluído uma aula extra sobre O Sagrado Anjo Guardião na Magia Brasileira: no Catimbó, Umbanda, Quimbanda e Santo Daime.
Fernando de Ligório
Filosofia Oculta
NOTAS:
[1] No sistema de magia contido no Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago encontramos uma profunda influência da feitiçaria tradicional salomônica dentro de uma releitura neoplatônica-cristã. É do baixo ou médio neoplatonismo que a ideia do Sagrado Anjo Guardião como compreendida na magia moderna ganha sua mais profunda influência.
[2] Essa ideia reflete as concepções teológicas e metafísicas dos magos da Antiguidade. Através de um espírito tutelar, seja como o daimon pessoal – hoje o Sagrado Anjo Guardião – ou como o paredros (mortos, elementais etc.), o mago podia estabelecer conexões com o mundo dos espíritos e lidar diretamente com eles.